Quando o mal tem um nome é um livro da autora Glau Kemp que fez sucesso nas redes sociais e nas vendas da Amazon. Com várias pessoas falando bem eu fiquei muito intrigada e quando vi uma promoção em que o livro estava de graça eu corri na Amazon e peguei o meu. Esta resenha pode vir a conter spoilers (mas não irei falar o final do livro, não se preocupe). Demorou até que eu tivesse um tempinho para ler pelo celular já que não possuo um Kindle, Kobo ou Lev, mas assim que iniciei a leitura eu não pude mais parar. Eu devorei o livro, é claramente muito bem escrito e a riqueza de detalhes lhe faz entrar ali. Me senti assistindo a filme de terror daqueles que lhe deixa encolhida no sofá atenta a qualquer ruído.
“Nunca saiba o nome de seu medo, porque ao saber seu nome, irá chamá-lo.” O livro se passa em 1971 e possui todas as características de cidade pequena, no caso Aparecida, e as questões religiosas da época, sem contar a cultura de mulheres como donas de casa. Logo no começo somos apresentados a Marta, uma mulher que já passou da idade de ter filhos, mas que está grávida de um terceiro e reza todos os dias para que seja uma menina, pois não aguenta mais ver a casa cheia de homens, já que possui dois filhos e o marido. Ela anseia para ter uma filha para que possa ensiná-la a ser uma boa moça religiosa, prendada e boa dona de casa. Mas todos ao seu redor dizem que por sua barriga ser muito pontuda ela terá um menino, e mesmo com uma promessa para a Nossa Senhora Aparecida Marta começa a desconfiar que seu pedido não será atendido. Ao ler o jornal vê uma notícia de que agora os médicos podem ver o sexo do bebê ainda dentro da barriga da mãe, assim quando o seu marido João diz que vai até a capital, São Paulo, Marta diz que irá também. O mesmo nega, mas após ela fazer um belo drama e dizer que ele vai ficar viúvo ela consegue sua ida até São Paulo. Chegando lá ela liga até a clínica e percebe que o preço é absurdo demais e furta o dinheiro de seu tio que havia ido com eles. Como os homens iriam fazer outra coisa e ela iria supostamente comprar o enxoval do bebê, Marta vê a oportunidade perfeita para ir até a clínica e pensar em um suposto assalto para contar ao seu marido e tio. Mas as notícias não são boas, Marta realmente carrega um menino e furiosa ela começa a destruir a clínica até que sai de lá antes que eles chamem a polícia. E assim uma cigana que a vê totalmente desamparada lhe dá um número de um telefone que diz resolver os seus problemas. Odiando a santa que não atendeu o seu pedido, Marta resolve ligar e ir até o lugar que para a sua sorte fica perto da sua cidade. Ao encontrar com o seu tio e marido ela derrama lágrimas verdadeiras por carregar um menino e não uma menina e inventa sobre o assalto que lhe levou todo o dinheiro. Driblando o marido Marta sai a procura do tal lugar e depois de muito sofrimento ela o encontra, e é de dar arrepios. Ali ela descobre que terá que fazer um ritual grandioso para trocar o sexo de seu bebê e beirando a loucura ela aceita. “Marta prendeu a respiração dentro do peito, mas sobreviveria mesmo sem ar, tinha ultrapassado os limites onde qualquer coisa lhe daria proteção. Estava sozinha sob os domínios do mal.” Na minha opinião, o ritual foi a melhor cena do livro. Foi muito bem descrita e em alguns momentos eu parava de ler e respirava pois ficava muito repugnada com o que estava acontecendo. O ritual dá certo, mas Marta não confia muito e sua fé fica abalada depois daquilo, pois ela fica com raiva da santa, além do fato de ter gostado de se deitar com os demônios. Ao dar a luz ao bebê em um momento de raiva, ódio e desgosto com a criança por acreditar que ainda possa ser um menino ela vê que nasce uma garotinha e sua esperança renasce.
No entanto, os problemas são outros. Devido a uma série de acontecimentos Marta começa a acreditar que deu a luz a criança maligna e assim começa a tratar Maria Clara – sua filha – de uma forma bruta e violenta. No aniversário de 15 anos de Maria Clara, Marta tenta matá-la em frente a igreja, mas um raio cai em cima da mulher a desintegrando no mesmo instante. Clara é jogada longe e tem o maxilar quebrado, assim ela acorda no hospital e sua vida que já era ruim fica pior. Claramente seu pai e seu irmão a vê como uma escrava doméstica, tendo que fazer tudo sozinha e deixar tudo limpo, além de fazer uma boa comida – afinal, é para isso que ela foi criada, ao menos é nisso que eles acreditam. O tratamento para com ela é seco e vemos uma garota completamente perdida no mundo no maior sofrimento. O que estava ruim piora ainda mais quando Clara começa a ter visões de um demônio a perseguindo, demônio esse que tira os seus sonhos e a faz entrar em pânico. Seu irmão Roberto possui um amigo chamado Henrique que sempre está a olhando e Clara cai de amores pelo rapaz que é um soldado. Determinada noite Henrique aparece por lá deixando seu irmão completamente bêbado e ao retornar para o carro finge que cai fazendo com que Clara o ajudasse apenas para lhe roubar um beijo. Estranhamente seu irmão começa a ficar doente e seu pai acaba tendo que levá-lo para morar em outro lugar e assim os dois saem da cidade deixando Clara sozinha. Henrique aparece por lá algumas vezes roubando beijos de Clara até que um dia ele a chama para dar uma volta de carro e tira a sua virgindade no banco traseiro do mesmo. Nas semanas seguintes passaram-se assim, se encontrando e amando, até que Clara questiona sobre casamento e ele diz que não é um homem para se casar e a larga. A menina percebe que foi iludida e cai na depressão, para piorar quatro meses depois ela descobre que está grávida. Clara tenta se livrar do bebê indo até uma mulher, mas ele já estava grande demais para que o aborto pudesse ser realizado e mostra para Clara uma forma de esconder a barriga com uma cinta. Mas certo dia, quando estava com sete meses, ela passa mal e cai no chão. Seu irmão Roberto vai ajudá-la e acaba descobrindo a gravidez. Em um acesso de raiva ele desperta Clara aos tapas xingando-lhe de vários nomes perguntando quem é o pai. A todo momento ela diz que é Donavan – nome que estava escrito no colar do exército que Henrique lhe deu. Roberto continua a socá-la até que a mesma diz que foi Henrique. Roberto a acusa de mentirosa, pois Henrique havia falecido naquela noite em que o rapaz lhe levara para casa e tivera um acidente de carro. Ele vai até a cozinha e pega uma faca querendo abrir a barriga de Clara, mas escorrega e acaba enfiando a faca em si próprio.
Toda ensaguentada e com um dente prestes a cair Clara agoniza andando até a igreja onde é socorrida e enquanto está desacordada ela vê que o Henrique que beijou e amou tantas vezes, na verdade, não era o amigo de seu irmão e sim um demônio, um demônio chamado Donavan. E que tinha gerado o filho de um demônio… o anticristo. — Por que um demônio iria querer vir até a cada de Deus, minha jovem? — Padre, por que o criador iria até a casa do demônio? — Para levar luz até ele. — O demônio também veio trazer alguma coisa… Quando o mal tem um nome é um livro muito bem escrito e as grandes editoras estão perdendo por ainda não terem comprado os direitos de publicação no Brasil. Parecia que estava lendo um grande clássico de terror como O bebê de Rosemary. Certamente quando o livro for lançado em forma física eu irei adquiri-lo mesmo já tendo lido. Esta é uma obra que o mundo inteiro deve conhecer e não me surpreenderia se acabasse saindo um filme ou uma série dele na Netflix. Sobre a questão de como os homens tratavam as mulheres, ainda vejo um – grande –  relapso disso hoje em dia. A maioria dos homens na minha família acreditam que só as mulheres e apenas elas devem tomar conta das tarefas de casa – fator que me causa uma grande ira e indignação. Me senti tão revoltada vendo Clara sofrer com o machismo em sua própria casa, pois eu ainda vejo isso muito perto de mim. Aos poucos tento mudar, mas esse pessoal mais velho sempre quer ter a última palavra… Mas não vou me alongar sobre este assunto ou ficaria horas falando e falando aqui. O final do livro é desesperador pois eu queria continuar lendo mais, eu queria saber mais sobre alguns personagens. O mais incrível é que tudo está conectado, alguns personagens que aparecem no início reaparecem no final com uma grande importância ou com uma grande tragédia. Fiquei com muita pena de Clara e querendo ajudá-la a todo momento, pois a garota nunca foi má, ela nunca foi o problema. Sua mãe já ensandecida que via coisas onde não tinha, talvez seja a cobrança do ritual e depois a desgraça de sua vida foi Donavan, o demônio que a atormentou.  Confesso que as vezes quando estou sozinha em casa eu fico com medo de pronunciar este nome, as vezes tenho a impressão de que se falar em voz alta poderei atrair o demônio até a minha casa. Tive até um pesadelo referente a isso e já alerto os mais sensíveis: Quando o mal tem um nome é um livro cru, forte e visceral. Não é para qualquer um e mesmo eu que adoro filmes de terror me senti incomodada com algumas cenas. Isto só mostra o quanto Glau Kemp foi habilidosa em escrever este livro.

Se você procura um livro cru, visceral e que te dê arrepios recomendo que leia Quando o mal tem um nome

E você? Já conhecia o livro? O que achou?