Vivemos em um tempo curioso, né? Depois de tantos filmes de quadrinhos medianos, era de se esperar que as pessoas já tivessem criado uma certa imunidade a esse tipo de filme. Mas, de repente, lançaram um filme sobre dois M&M’s mutantes, e parece que o pessoal ficou maluco.
Eu, claro, não entro nesse hype todo, mas ignorar esse projeto, ainda mais depois de tantas críticas positivas, eu não consegui. Então, meus amigos, hoje vou falar pra vocês sobre “Deadpool e Wolverine”.
Prefácio

Pois bem, seguindo a tradição deste blog, vou começar com uma (não tão) breve introdução.
Conheço o Deadpool, assim como muitos outros heróis da Marvel, já há algum tempo, ainda que indiretamente. Dos desenhos dos X-Men, de “O Espetacular Homem-Aranha”, do filme do Hulk e, claro, do filme “X-Men Origens: Wolverine”. E sendo sincero com vocês, leitores, vou dizer que esse herói nunca foi dos meus favoritos. Sim, sem dúvida, suas piadas às vezes acertavam em cheio, mas com o tempo você começa a se cansar desse tipo de humor metralhadora. E, convenhamos, o mercenário tagarela não tem muitas histórias dramáticas fortes. Então, como a maioria dos fãs casuais da Marvel, não estava muito empolgado com o filme estrelado por Ryan Reynolds.
Mal sabia eu o que aconteceria com o fandom depois de seu lançamento.
Na época, o filme estava em todo lugar. A cara vermelha do Deadpool aparecia em todos os cantos. No fim das contas, querendo ou não, você acabava encontrando algum vestígio desse filme de quadrinhos. Com o passar do tempo, no entanto, ele começou a ser visto de uma forma bem diferente.
Apesar das piadas do Deadpool ainda arrancarem sorrisos e de algumas cenas ainda fazerem o sangue ferver (como a cena de abertura ou o interrogatório dos capangas do Francis), o filme sofre com uma dose de drama enfadonha e uma seriedade que aparece no meio da história. Toda essa “romance” com Vanessa e o Francis acabou retardando o filme e quebrando a atmosfera insana que os criadores tentaram alcançar. Não ajudou o fato de que “Deadpool” era um filme bastante “cinzento” com uma produção razoável. Tenho a impressão de que, se ele fosse lançado agora, não teria o mesmo sucesso que teve em 2016.
Ainda assim, ele foi lançado em 2016, tornou-se o filme com classificação R mais lucrativo (na época), e a continuação não demorou a chegar.

Em 2018, chega “Deadpool 2”, e desta vez o filme consegue me conquistar. David Leitch, diretor deste filme, entrega uma produção visualmente vibrante e agradável, acompanhada de cenas de ação igualmente bem executadas. Além disso, a história do filme desta vez consegue manter um equilíbrio entre o drama pessoal do herói e suas aventuras bem-humoradas, o que faz com que a imersão não seja quebrada. Sim, o enredo é bem simples. Alguém pode até dizer que ele é “sem sal”. Mas, na minha opinião, a “história familiar” de Wade Wilson foi muito mais interessante do que a vingança sem graça contra algum Francis.
Assim como da última vez, o filme é um sucesso tanto de bilheteria quanto de crítica. No entanto, a situação muda de forma abrupta quando a Disney compra de vez o estúdio FOX, que detinha os direitos do Deadpool. E, apesar das rápidas declarações de Kevin Feige, como: “Galera, não se preocupem, não vamos mexer no Deadpool. Tudo será feito do mesmo jeito de antes. E vai continuar para maiores de 18 anos!”, ainda restava aquela dúvida no fundo da alma de que poderiam cancelar ou alterar tanto o filme que ele se tornaria irreconhecível.
Pois bem, já se passaram mais de 6 anos desde o segundo filme, e agora temos o terceiro. E não é qualquer filme, mas com ninguém menos que Hugh Jackman no papel de Wolverine! Será que o chefão manteve sua palavra? Sim e não. Vamos ao filme!
Direção e produção

A direção deste filme ficou nas mãos de Shawn Levy – bom amigo de Ryan Reynolds e um diretor razoável, embora não tenha o mesmo estilo e abordagem criativa que David Leitch. Por outro lado, Levy está totalmente imerso na cultura geek e, por isso, é capaz de inserir referências e piadas para o público nerd aqui e ali, o que ele realmente faz no filme.
O resultado final em termos de direção parece uma espécie de upgrade do primeiro Deadpool. Ou seja, sim, temos essa paisagem cinzenta do trailer, junto com as bases sucateadas – o que compõe praticamente 80% do filme. A questão é que a qualidade das cenas oscila – às vezes, Levy entrega uma cena de ação super empolgante, mas em outras, os personagens estão simplesmente conversando com planos intercalados, mesmo quando parece que alguma ação seria mais adequada.
Ou seja, eu consigo ver claramente que ele está tentando fazer algo bacana, algo memorável, e às vezes até consegue, mas, infelizmente para ele, aquele “efeito uau” das cenas não chega a ser alcançado. Ou melhor, ele até aparece, mas com certeza não é mérito do diretor.
As únicas duas cenas pelas quais eu tiraria o chapéu para o diretor são a cena de abertura com a música Bye, Bye, Bye e a divertida montagem ao som de Like a Prayer da Madonna. Essas cenas são realmente energéticas, divertidas e, o mais importante, nada triviais.
Humor

Pelo que todos lembram e amam o Deadpool? Pelo seu jeito de não parar de falar, de onde jorram piadas de vários níveis de hilaridade. E, para que eu não continue escrevendo sobre o filme, uma coisa não se pode tirar dele – ele é absurdamente engraçado!
A Marvel decidiu fazer a coisa mais inteligente relacionada a este filme – não limitar a criatividade dos criadores. E graças a isso, recebemos um verdadeiro caminhão de tiradas sarcásticas direcionadas à Corporação do Rato, ao MCU e outras bobagens do cinema. Deadpool, também conhecido como seu amigo geek, está sempre tirando sarro da situação. E isso começa desde o primeiro segundo do filme, com a melhor cena, na minha opinião, do longa. A cena em que Deadpool faz, figurativamente, uma zombaria sobre o corpo do universo dos X-Men da Fox.
Sem dúvida, esse tipo de humor pode não agradar a todos, e eu consigo entender isso perfeitamente. Mesmo em comparação com os filmes anteriores, aqui a quantidade de piadas por minuto de duração aumentou ainda mais. Mas, mesmo assim, elas não deixam o espectador entediado durante a exibição (na maior parte do tempo).
Claro, além das divertidas participações especiais e das piadas sarcásticas, o filme também brilha com a dupla Jackman e Reynolds, o que não é surpreendente. O Wolverine aqui é uma versão mais desencanada e mais maldizente de seu próprio personagem. Ele se assemelha muito a um típico pai geek. Ele está sempre bebendo, frequentemente reclamando de cara fechada com seu filho geek, mas no fundo ele o ama, permitindo que ele faça piadas a seu respeito.
Resumindo esta parte, fiquei quase completamente satisfeito com o humor do filme. E embora não haja nada melhor do que a cena de abertura em termos de humor/ação, algumas falas dos personagens foram simplesmente incríveis. Talvez a melhor delas tenha sido do personagem cameo, que fez uma crítica muito bem-humorada a um filme de longa espera do MCU, que nunca consegue ser finalizado.

P.s. A dublagem dos cazaques desta vez foi muito boa. As vozes foram escolhidas de forma autêntica e a tradução foi boa. E até incluíram algumas piadinhas sobre a empresa do dublador. O dublador gostou tanto das piadas que ele ficou reclamando no grupo, dizendo que passou a noite toda sem dormir, sem conseguir entender como os cazaques conseguiram fazer isso.
Enredo e Arcos de Personagens

Bem, falamos sobre o que há de bom no filme, agora vamos ao que há de ruim. O enredo de “Deadpool e Wolverine” é paradoxal – por um lado, é baseado em uma história escrita para crianças de cinco anos. “Dois caras engraçados brigam, depois percebem que a amizade é maravilhosa e juntos derrotam a vilã má”. Juro que em desenhos animados da Disney há mais profundidade e reviravoltas.
Por outro lado, essa mesma história se acumula com tantas convenções, regras e conexões que, no final da exibição, você simplesmente se perde em toda essa confusão. Vou tentar descrever tudo isso sem grandes spoilers, mas na verdade, não há muito o que estragar (exceto pelas participações especiais, mas sobre isso vou me calar).

Por exemplo, vamos falar sobre os vilões locais – o funcionário de escritório Paradoxo e a rainha das Terras Desoladas, Cassandra Nova. O filme faz de conta que há uma colaboração mútua entre esses personagens, mas a maneira como isso é apresentado simplesmente não faz sentido. Qual é o benefício do Paradoxo em relação a ela? Como Cassandra se envolveu com ele desde o início? Por que Paradoxo se comunica com ela através de um intermediário aleatório, e por que, no final, ele decide reviravolta ela? Por quê? A resposta é: para confundir! Toda essa confusão é necessária apenas para que, no final, Cassandra tenha acesso ao macguffin local, e para que os heróis tenham motivação para eliminá-la de vez.
E há muitas dessas complicações desnecessárias no filme. Começando com o porquê de Alioth (a fumaça roxa de “Loki”) de repente parar de destruir tudo que toca, e terminando com a aparição de versões do Deadpool que, AFINAL, estiveram ao lado durante todo esse tempo. Parece que os principais amantes das batalhas sangrentas decidiram se esconder quando essa luta começou, né?

Eu já ouço as queixas dos fãs, dizendo que em Deadpool nunca houve um enredo bom, e que ele não é necessário, “dois caras imortais se batendo, e é isso!” Mas eu não concordo! Sim, os dois primeiros filmes também eram um pouco simplistas, mas a lógica dos eventos e as motivações dos personagens não tinham tantas lacunas e convenções. Você sempre entendia o que Wade queria, o que Cable queria e o que o gordo pirotécnico queria. Você entendia tudo! Aqui, no entanto, metade do filme parece passar como se estivesse em algum delírio, quando o roteirista já não tem mais forças ou criatividade, e ele simplesmente joga coisas aleatórias na esperança de que algo grude na parede.
E tudo bem, vamos deixar de lado o enredo! Eu poderia aceitar normalmente um enredo tão simples quanto uma vara no terceiro Deadpool. Se me mostrassem apenas como o animado Wade Wilson tira Logan da ressaca e depois vai socar um funcionário de escritório, eu não teria problema com isso! Mas, neste caso, o melhor é inimigo do bom. E nesse aspecto, a montanha de convenções não é o único problema do filme. As arcos dos personagens também são um grande problema.

Então, vamos começar com o Deadpool. Ele está em um estado terrível – não conseguiu o emprego dos sonhos, “saiu do jogo”, e Vanessa o deixou. Vanessa… o deixou… Depois de tudo o que ele fez por ela nos dois primeiros filmes. Porque ele é tipo “egoísta”. Emm…
E não é nada, que, literalmente, ELE SALVOU A VIDA DELA em dois filmes seguidos? Não é nada, que durante esses mesmos dois filmes ele só fez tentar agradar todo mundo e ser agradável (do seu jeito, claro). Meu Deus, no segundo filme ele tenta se redimir com Vanessa, tentando salvar um garoto do abrigo de mutantes. Ele literalmente MORRE por causa dele. E depois disso o chamam de “egoísta”?
Entendem, toda essa conversa sobre egoísmo – é a arco que Deadpool supostamente deveria passar. Tipo, tudo o que importa para ele é seu próprio bem-estar, e nada mais. Embora neste mesmo filme, em uma das primeiras cenas, Deadpool se esforça ao máximo para se tornar um verdadeiro herói. Sua principal motivação no filme é o desejo de salvar seus amigos de um grande desastre global. E mesmo assim, os criadores continuam a nos empurrar a ideia de que ele é egoísta, porque “hah, ele ficou com ciúmes do cachorro em relação ao cara! Hah, agora o cara vai se dar mal, hah!” Eu não sei. Talvez eu esteja sendo chato, mas toda essa arco do protagonista me pareceu desnecessária. Especialmente porque, no contexto deste filme, é óbvio que Deadpool desempenha o papel de herói passivo – aquele que permanece fiel a si mesmo até o final, ajudando ao mesmo tempo o segundo herói, mais ativo, a mudar ao longo do filme. Aliás, falando em herói ativo…

Ao contrário da trama do Deadpool, que me pareceu desnecessária, a linha de enredo do Wolverine, por outro lado, me pareceu mal explorada. Aqui, Logan é apresentado como “a pior versão de todo o multiverso”. E sabendo do que Logan é capaz, você espera algo terrível, algo indescritivelmente horrendo.
E então Logan te conta sua história de origem, e você fica… é só isso? Todo esse clima, toda essa atuação do Hugh Jackman – para isso? O que aconteceu em “Logan” é muito mais trágico do que o que tentam nos apresentar aqui como uma grande queda. Sério mesmo!
Além disso, esse problema poderia ter sido resolvido se os criadores tivessem NOS MOSTRADO a vida desse Logan. Se tivéssemos pelo menos um flashback significativo com ele. Mas não. Em vez disso, você recebe na cara duas cenas longas, onde os personagens simplesmente falam sobre todas as “coisas horríveis” que o Wolverine fez. Sem qualquer flashback, sem simbolismo, sem nada.

No final das contas, toda essa drama que os criadores tentam construir entre esses dois personagens simplesmente não funciona, porque de um lado temos um que é superexplorado, e do outro, um que é mal explorado. Por causa disso, a cena culminante do filme parece apenas uma paródia de uma paródia, e não provoca o efeito desejado. Você simplesmente levanta as mãos e diz: “O que vocês, galera, estão fazendo? Vamos lá, parem de sofrer e acabem logo com o careca”.
E além disso, não há nada no filme. Não há arcos secundários interessantes, não há heróis secundários legais, não há NADA. Os vilões são extremamente caricaturais e ridículos; os heróis secundários dos filmes anteriores foram jogados de lado. E os heróis de cameos… Bem, como dizer…

Alguém pode chamar isso de vitória, GO-O-O-OL! Afinal, os heróis de cameo locais permanecem fiéis a si mesmos do passado e parecem bastante impressionantes. Além disso, adicionamos a nostalgia, como poderia ser diferente? Mas, ainda assim, na minha opinião, tudo isso ainda parece uma balançada de chaves diante dos fãs. Esses personagens não têm seus próprios arcos, não têm objetivos ou conflitos interessantes. Eles simplesmente atuam como móveis agradáveis no fundo do caos que se desenrola. Não estou dizendo que eles não parecem bons, mas seu potencial não foi totalmente explorado. Especialmente o herói de cameo que está diretamente ligado ao Logan. Pareceria que já tivemos um filme em que a interação deles foi mostrada de forma incrível, então, por que não repetir isso? Mas não! Esses dois heróis simplesmente se comunicam uma vez com monólogos chatos, e assim termina sua conexão.
O que quer que alguém diga sobre “Sem Caminho para Casa”, a química entre os três Homens-Aranha era visível na tela. Você via que, no pouco tempo que tiveram juntos, conseguiram se apegar. Eles conseguiram inventar algumas piadas amigáveis, se apoiar. O Homem-Aranha de Garfield até fechou seu ciclo, salvando Zendaya do Duende Verde. E aqui, o que temos? Bem, algumas boas falas isoladas e uma cena de ação. Fraco, muito fraco. Na verdade, a abordagem de “Multiverso da Loucura” é apenas diferente na troca de lados dos personagens de cameo. Antes, eram carne de canhão, e agora estão rasgando a carne de canhão.
Bem, quero finalizar minha análise com o que Kevin Feige tanto elogiou em várias entrevistas sobre o filme, ou seja, a influência que “Deadpool e Wolverine” tiveram sobre todo o restante do MCU.
Lore global e consequências.
Escutem, eu não excluo que Feige, ao falar sobre a influência de Deadpool no universo cinematográfico, tenha se referido a outras coisas. Afinal, este é o primeiro filme no MCU com classificação R e o primeiro filme que utiliza personagens da Fox de forma tão aberta. No entanto, considerando que o “capitão” comparou o filme com “Guerra Infinita” e “Ultimato” — dois filmes com a mesma equipe de produção e uma trama unificada — eu ainda suponho que ele se refere à influência dentro do próprio universo cinematográfico.
Nesse sentido, é preciso fazer uma ressalva – “Deadpool e Wolverine” é um filme totalmente autônomo (se deixarmos de lado os filmes da FOX). Ele não dá continuidade a nenhuma trama de projetos anteriores e termina de forma bastante clara. Sim, a TVA está envolvida no filme, e o status quo da organização mudou desde a segunda temporada de “Loki”, mas dentro do próprio filme essa temática não é muito aprofundada, basicamente parando no ponto de que “são apenas caras que monitoram o multiverso”. E nada mais. Para alguns, isso pode parecer um ponto positivo, para outros, um negativo. Pessoalmente, eu não me importei muito – se mudaram, mudaram, por que reclamar? De qualquer forma, além dos fãs da Marvel, ninguém mais vai ver esse filme intencionalmente.
O que me incomoda, porém, é a concepção do multiverso que foi adicionada neste filme – Personagens âncora (a seguir terão pequenos spoilers do filme).
A essência é a seguinte – em cada universo existe uma criatura cuja vida determina o destino de tudo. E assim que esse personagem morre, o universo em breve segue o mesmo caminho. MAS, é importante destacar – esse processo pode ser revertido se trouxermos outra criatura de um universo diferente e a colocarmos no lugar certo. Assim, a morte do universo pode ser evitada.
Por um lado, isso soa como apenas uma meta-referência, como se dissesse que assim que um personagem interessante para o público morre, a franquia vai para o fundo junto com ele. Mas assim que começamos a pensar seriamente nessa concepção, tudo se torna muito, muito assustador. Por exemplo, por qual princípio o universo existe antes do nascimento do Personagem Âncora? Ele simplesmente não existe, ou os personagens se substituem com o tempo? E como isso funciona? O Personagem Âncora de outro universo deve ser uma versão desse mesmo personagem, ou isso também acontece aleatoriamente? Como essa concepção está relacionada com a Invasão de “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura”? E pode haver vários Personagens Âncora em um mesmo universo? E o que acontece se um deles for morto?
Entendem, eu não gostaria de levantar toda essa polêmica sobre a mecânica do multiverso, se a própria Marvel não estivesse fazendo isso. Deadpool no filme não uma ou duas vezes brinca sobre o fato de que o multiverso não funciona, mas com cada nova regra tudo se torna mais idiota e mais idiota. “Viagens no tempo são impossíveis, elas apenas criam linhas do tempo adicionais?” Não, são possíveis – veja, tanto a Miss Marvel quanto o Loki conseguem voltar tanto ao passado quanto ao futuro. “Mover personagens de um universo para outro causa Invasões que destroem tudo.” Sim, só que isso não impediu os Homem-Aranhas e seus vilões de ficarem no universo 616, e nem o Deadpool em outros universos – também não. “A TVA está fora do tempo.” Então, por que o Loki é capaz de viajar no tempo dentro dela? E por que dentro da TVA os universos também morrem gradualmente, embora eles deveriam ver tanto seu nascimento quanto sua morte. O que é o Ponto Absoluto de “What If?” E como isso se relaciona com o evento canônico que existe no Spider-Verse? O que o Supremo Estranho estava tentando fazer na segunda temporada de “What If?” Para todas as entidades do multiverso, os sonhos são uma projeção das vidas de suas versões?
De todas essas regras, condicionais e conceitos estabelecidos na Saga do Multiverso, constrói-se um caminho que inevitavelmente nos leva ao completo caos e à loucura no final do trajeto. E o mais assustador de tudo isso é que tentarão apresentar tudo isso de forma séria nos próximos Vingadores e em outros projetos.
Quando não há regras que governem seu mundo fictício, não faz sentido se preocupar com seu destino e com o destino dos personagens. Aconteceu uma Invasão? Bem, simplesmente trocamos o Personagem Âncora, sem problema! Houve uma ameaça dos Kang? Pfff! Loki, sentado na cadeira, vai cortar a linha do tempo deles, e pronto, a ameaça desaparece. Agora lutem contra o Doom. Ah, não, isso não é o Doom – é uma versão do Tony Stark, e ele vai voar pelo multiverso, tornando-se o Personagem Âncora em todos os lugares. Assim vai ser divertido, né!?
Não, não vai.
Provavelmente, o mais triste em toda essa situação para mim é que a sobrecarga de todas essas regras praticamente destrói a possibilidade de uma adaptação decente de “Guerras Secretas” de Jonathan Hickman. Onde nos quadrinhos os heróis enfrentavam o fim iminente de tudo, no UCM haverá uma infinidade de possibilidades e abusos do multiverso. Onde nos quadrinhos os heróis tinham que superar seus próprios princípios morais, sacrificando relacionamentos com entes queridos e amigos, no UCM nos aguarda um desfile de fanservice e baboseiras sem sentido. Onde no quadrinho você lia um thriller com elementos de detetive, cheio de mistérios e traições, no UCM será uma comédia insana, onde 10.000 personagens farão piadas a cada segundo.
Isso é inevitável… E eu aceito!
Conclusão.
Para aqueles que estão cansados de ler meus pensamentos intermináveis – “Deadpool e Wolverine” é um filme muito divertido, muito doido, para se assistir uma vez. A química engraçada entre os protagonistas, as boas cenas de ação e o desfile de fanservice fazem seu trabalho. Eles fazem você esquecer tudo por duas horas e apenas aproveitar a vida, especialmente na companhia de amigos nerds. Sim, a trama é tão ilógica quanto simples. E, no meio, o filme dá uma caída devido ao drama forçado e à estética monótona. Mas, no geral, se você espera ver o Deadpool que conhece, você o encontrará.
Avaliação final – 6/10
Feige fez isso – ele venceu. Ele encontrou a fórmula perfeita para filmes para seu público-alvo. Mínima lógica – máximo de rostos conhecidos e “momentos tão esperados”. E ele não vai se afastar disso. Não se surpreenda em dois anos se “Vingadores: Dia do Juízo” acabar sendo um filme igualmente sem sentido, mas cheio de fanservice, e não “Guerra Infinita” 2.0, que todos esperam há tanto tempo.

Muito obrigado a todos que leram este artigo até o final. Espero que o último mês de verão seja ótimo para vocês! E eu vou reler “Fúria Vermelha”. Alguém tem que fazer uma análise sobre isso, certo?