Lançado ainda esse ano no Brasil pela editora Sextante “O Momento de Voar — Como o empoderamento feminino mudou o mundo” foi escrito pela americana Melinda Gates (co-presidente e co-fundadora da Fundação Bill e Melinda Gates, ex-funcionária da Microsoft e também esposa de Bill Gates) contando um pouco sobre a sua experiência e seus projetos ao redor do mundo para empoderar mulheres, como eles iniciaram e qual a importância deles não só para a vida feminina, como também para suas famílias, para a economia e até para a sociedade como um todo.

“Quando nós, mulheres, podemos decidir se e quando teremos filhos; quando podemos escolher se, quando e com quem vamos nos casar; quando nós, mulheres, temos acesso ao serviço de saúde, contribuímos com nossa parcela justa de trabalho não remunerado, recebemos a educação que desejamos, tomamos as decisões financeiras e que precisamos, somos tratadas com respeito no trabalho, desfrutamos dos mesmos direitos que os homens e ascendemos com a ajuda de outras mulheres e de homens que nos ensinam a estar na liderança e nos apoiam para ocupar cargos mais altos, nós prosperamos… e nossas famílias e comunidades prosperam conosco.”

Inicialmente, Melinda fala da importância do planejamento familiar. Em regiões da África e da Ásia, principalmente, há mulheres que nunca souberam sobre métodos contraceptivos e nem tiveram acesso a eles. Meninas casam-se muito cedo e desde então passam a ter filhos atrás de filhos, muitas vezes parindo mais crianças do que podem sustentar e criar. Com uma gestação atrás da outra, as mães ficam cada vez mais doentes, os filhos com menores índices de educação, menos alimentos e também suscetíveis a mais doenças. É um ciclo que se repete e quanto mais gravidez, mais misérias e menos oportunidades.  Diante desse cenário, Melinda e seu esposo notaram a necessidade de projetos que levassem o planejamento familiar também para áreas afastadas e pobres. E aos poucos, a autora narra histórias de mulheres que conheceu que andavam vários quilômetros para receber uma injeção contraceptiva, porque sabiam da importância dela. E muitas vezes, faziam isso, sem o conhecimento do marido, que poderia não gostar da ideia de planejar as gestações. Melinda também conta da dificuldade que essas mães têm na hora do parto, os costumes que estão arraigados na cultura na qual vivem e que são prejudiciais inclusive para os bebês. Há o caso de uma mãe que pariu e seu bebê foi deixado ao chão, sem proteção, no frio e estava morrendo de hipotermia. Há outros em que as crianças logo que nascem são deixadas dias sem serem alimentadas. Para superar tudo isso, a fundação dos Gates investiu em capacitação profissional para dar assistência aos partos e também num maior contato com cada comunidade, gerando discussões conversas e mostrando pouco a pouco quanto algumas práticas culturais são equivocadas e prejudicam mães e crianças. Outros temas abordados no livro são a mutilação genital feminina, casamento infantil, a privação feminina de frequentar a escola, as mulheres na agricultura e o trabalho não remunerado em casa. Esse último, com projetos onde marido e esposa trocavam de lugar e só então eles percebiam o quanto elas trabalhavam, sendo sempre muito mais horas do que eles em seus empregos fixos. Há também um caso de mulheres que caminhavam mais de 20 km diariamente para buscar água. Um dos maridos foi convencido a ficar responsável por essa tarefa, e notou que sua esposa passou a ficar mais descansada, saudável e feliz. Ele espalhou isso aos demais maridos e muitos deles assumiram a tarefa também e então, para evitar caminhar os 20 km optaram por ir de bicicleta, depois criaram formas ainda mais fáceis de pegar água. Isso só ocorreu porque eles, que tinham poder de ação dentro da comunidade, colocaram-se no lugar delas e perceberam as dificuldades que enfrentavam. Possivelmente se as mulheres prosseguissem realizando a tarefa, nada mudaria. Elas não têm voz e espaço para fazer as mudanças ocorrerem. O mundo delas é isolado. Só quando alguém se pôs na pele delas foi que notou suas necessidades e pôde agir. Por isso é tão importante a participação feminina na sociedade, na política, na economia e nas empresas. Elas, mulheres, notam necessidades diferentes, notam novos nichos de mercados, outras dificuldades e a diversidade étnica cultural, de gênero, idade, etc só tem a agregar. Alguns trechos em que a autora contava a história de mulheres de mundo muito diferente dos dela eu senti um tanto de superficialidade na narrativa. Entretanto, no capítulo em que Melinda aborda as dificuldades da mulher no mercado de trabalho e conta suas próprias experiências nas empresas do Vale do Silício foi um dos meus preferidos. Não sei se é porque é uma das partes em que mais se assemelha a minha realidade ou se simplesmente ela fala com maior propriedade do que já viveu. A autora também aborda o movimento #MeToo e como pouco a pouco estão mudando a cultura machista das grandes empresas. E há momentos também que conta um pouco mais de sua relação e a parceria com o marido Bill Gates.

“Uma menina que recebe amor e apoio pode começar a derrotar a autoimagem que a mantem prisioneira. À medida que ganha autoconfiança, vê que pode aprender. À medida que aprende, enxerga os próprios dons. À medida que desenvolve esses dons, compreende o poder que tem e se torna capaz de defender os próprios direitos. É isso que acontece quando oferecemos amor, e não ódio, às meninas. Levantamos o olhar delas e elas ganham voz própria.” 

“O Momento de Voar — Como o empoderamento feminino muda o mundo” é um indispensável para se entender a importância do feminismo e mais do que isso recordar o quantos as mulheres ainda estão distante da equidade com os homens, principalmente em países menos desenvolvidos e pobres. Muitas vezes, esquecemos o quanto somos mulheres privilegiadas e quanto já conquistamos, mas Melinda, nesse livro, faz com que recordamos e descubramos o quanto ainda temos a conquistar e como essas conquistas podem beneficiar a todos.
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