Hoje trago a vocês uma animação muito linda, delicada e ao mesmo tempo pesada e complexa: Minha vida de Abobrinha (no original: Ma vie de Courgette). Ela foi indicada ao Oscar 2017, mas foi pouco comentada, ficando a sombra de Zootopia, a vencedora, e Kubo e as Cordas Mágicas (ambas muito ótimas também!).
A animação é uma produção franco-suíça adaptada do livro de Gilles Paris, Autobiographie d’une Courgette (tradução literal: Autobiografia de uma Abobrinha). O filme conta a história de Ícaro, mais conhecido como ‘Abobrinha’, que é como sua mãe o chama. Ícaro mora com a mãe, que é alcoólatra, e por isso está sempre brincando em seu mundo de fantasia, em que os castelos que ele monta são feitos de latinhas de cerveja. Além disso, ele tem um amigo, que é uma pipa na qual desenhou um herói, que diz a todos que é o pai dele. Em um acidente, em que sua mãe sobe as escadas para seu quarto bêbada para brigar com ele após ter derrubado várias latinhas, Ícaro acaba fechando a portinhola sobre a cabeça da mãe, que cai da escada (tá achando pesado? calma, calma, a forma de retratar tudo isso é pelo olhar de uma criança, a inocência dá um toque muito especial!).  Sem outra família, Ícaro é mandando para um orfanato, onde tem que se adaptar a diferentes coleguinhas além de lidar com a recente morte da mãe. Ele leva consigo apenas uma latinha de cerveja e a sua pipa, que guarda com todo cuidado do mundo. Por sorte, Ícaro já faz um amiguinho no caminho: o policial que o deixa na porta do orfanato e volta para visitá-lo rotineiramente. Lá no orfanato tem um menino peralta que fica pegando no pé dele o tempo todo, umas professoras boazinhas que cuidam deles e toda a sorte de problemas que permeiam a vida dessas crianças, que perderam os pais ou simplesmente foram abandonados de várias formas diferentes.  Apesar de tudo isso, e mesmo se estranhando às vezes, as crianças vão se ajudando, brincando juntas, fazendo companhia uma a outra e recebendo os novos moradores, como uma grande família. É muito bonito o jeito simples como o filme mostra que família não é necessariamente o lugar e as pessoas com quem você nasce. O laço entre as crianças se torna tão forte como o de irmãos, e são relações muito verdadeiras, na medida que envolvem também os desentendimentos, além da cumplicidade de terem um ao outro, quando já não pareciam ter mais ninguém. Nem preciso dizer que rolam lágrimas, mas também risadas e momentos de pensar sobre as diferentes formas de lidar com perdas, nos olhos de pessoinhas que são muitas vezes consideradas despreparadas para a vida. Não que o filme tenha que ser visto como uma aula de superação (até porque não é, os problemas ainda existem), mas acho que ele fala um pouco sobre conviver com as tristezas e também com as alegrias. A animação tem um visual diferente, que eu achei muito bonitinho, e é em stop-motion, que eu adoro. Eu sempre fico pensando no cuidado e na dedicação que é você modelar e mover as peças do cenário e parece que fica ainda mais incrível quando a gente atenta para isso. As cores desse filme também transmitem sentimentos e te faz adentrar mais o mundo da “Abobrinha”. Nesse filme, tem várias formas de amor e várias formas de indiferença também, mas a sutileza com que tudo é apresentado faz você se sentir inocente como uma criança de novo.  Enfim fica aí a indicação! Tem que ir preparado com alguns lencinhos, se você for manteiga derretida igual eu, mas no final fica um gostinho de esperança que é ótimo. Quem já tiver visto, ou puder dar uma olhada, deixe a opinião nos comentários!