Geralmente tento ver o melhor dos filmes, mas A mala e os errantes tem pouquíssimo o que salvar. Apesar de algumas risadas e filmagens bacanas do upstate de Nova York, o longa peca em todo o restante pelo número de absurdos. E olha que eu costumo gostar bastante de absurdos na ficção — sou fã de David Lynch, afinal —, mas é possível notar quando eles são fruto de descuido e quando são planejados.

Em A mala e os errantes, Danny (Callum Turner) é ajudante de cozinha em um restaurante italiano, enquanto a misteriosa Ellie (Grace Van Patten) precisa de dinheiro para voltar para casa e pagar dívidas. Ela aceita o plano em troca de dinheiro, mas Danny é obrigado a fazer parte pelo irmão, Darren (Michal Vondel), que deveria ser o responsável pela mala, mas acabou preso antes do plano ser colocado em prática. A mala e os errantes é só um grande descuido do começo ao fim. Introduzem um mistério pretensioso na forma de uma mala protegida por um plano mirabolante apenas como desculpa para uma aproximação sem muito sentido de dois jovens adultos (quase adolescentes) rebeldes. Embora exista a sugestão de um romance, até ele fica apenas na promessa.


Ok que o título original, Tramps, não menciona nenhuma mala, mas todo o roteiro teoricamente deveria se basear na troca de uma mala. A história, porém, é tão mal construída que isso sequer acontece. Quer dizer, a perda da mala original gera praticamente todo o enredo do filme, mas a troca, que deveria ser essencial no plano, nunca chega a acontecer. Mesmo assim, sem nenhuma explicação, o plano continua apenas com a mala original.

Além disso, o conteúdo da mala é o que menos importa. Temos por aí centenas de filmes ótimos que se constroem ao redor de algo que não tem realmente explicação. Muitos dos filmes do Hitchcock são baseados nesse tipo de narrativa, onde o objeto passou a ser chamado de MacGuffing. O problema real está na falta de amarração da trama — e, ainda, em uma revelação desnecessária que ainda mostra que, apesar de ser a mala errada, é a mala certa (por mais contraditório que possa parecer).


O filme tenta passar uma imagem descolada e rebelde que acaba não colando e é difícil compreender como um continuista deixou elementos tão essenciais passarem despercebidos. Se você quer ver um filme independente, tem opções bem melhores até dentro da própria Netflix, a não ser que não se importe em ver alguma coisa com pouca plausibilidade narrativa.

Minha única apreciação foi pelas sequências filmadas em Poughkeepsie, com o Hudson de fundo. Agora, é claro, tem quem aprecie esse tipo de filme. Se for seu caso e você não se importar muito com buracos no roteiro, talvez até goste.

Se quiser apenas passar o tempo e passear com os personagens pelas linhas férreas de NY, o filme está disponível na Netflix e ainda dá para conferir o trailer (infelizmente sem legendas) aqui: