Escravo de Capela é um livro que me chamou atenção há um tempo, mas só durante uma promoção da Saraiva que fui capaz de adquiri-lo e não me arrependo. A leitura demorou um pouquinho para engatar – talvez não foi culpa da história, mas sim do difícil momento que passei neste mês de setembro – mas, assim que aconteceu um determinado acontecimento, a leitura fluiu como um tiro e se tornou uma das mais queridas do mês. Esta resenha pode conter spoilers, contei até metade do livro bem por cima mesmo para vocês entenderem bem do que se trata a história.
Escravo de Capela se passa na no Brasil, mas na época em que ainda era colônia de Portugal. Acompanhamos a história de um jovem negro chamado Sabola que foi capturado em sua terra natal e trazido para a fazenda Capela onde iria trabalhar para o resto de sua vida. Naturalmente, os escravos recém chegados não entendem nada do que os capatazes falam, mas são proibidos de falar sua língua pois o Antônio Segundo, primogênito do Batista e dono da fazenda dos Cunha Vasconcelos, não aceita que escravos falem a língua “feia” deles.
Sabola já no primeiro dia apanha muito por desobedecer as ordens de Antônio, mas seu espírito selvagem não passa despercebido por Akili ou Fortunato como os capatazes o chamam. Ali cada escravo ao chegar recebe um nome novo e não pode usar o antigo, mas entre eles na senzala, eles conversam e usam seus verdadeiros nomes. Akili é um velho com as pernas atrofiadas, ele conta a Sabola que certa vez conseguiu fugir, mas foi pego por Antônio, e o herdeiro da fazenda é conhecido por ser muito cruel.  Antônio agrediu tanto Akili em suas pernas, que os ossos moeram e ele nunca mais conseguiu andar. Assim, o velho homem fica na senzala sem precisar ser acorrentado e sem ver um único raio de sol, pois não consegue mais trabalhar. Ao escutar a história, Sabola fica animado em ver que ao seu lado está o homem que conseguiu escapar e poderia lhe ajudar. Akili diz que irá ajudar, mas precisa que Sabola seja persistente e lhe traga todas as ferramentas necessárias para que ele possa abrir os cadeados que prendem as pernas de Sabola. A tarefa não é fácil, mas como um rapaz que se recusa a ficar ali pelo resto de sua vida, ele consegue todas as ferramentas que lhe é pedido. Esse processo demora um pouco, mas não vou me alongar.
Enquanto isso, na Casa Grande, o segundo filho de Batista, Inácio, retorna do exterior depois de estudar medicina. Inácio é completamente diferente do irmão mais velho e o pai, ele acredita que a escravidão não é a solução e que todos os humanos são iguais, algo que seu pai e irmão acham um absurdo quando o jovem menciona gerando conflitos. Antônio, cruel como é, não gosta de forma alguma do irmão mais novo, e mesmo Inácio dizendo que não quer a fazenda para si, Antônio se sente ameaçado. E enquanto Sabola está tentando recolher as ferramentas para fugir, Inácio conhece Damiana, uma criada da Casa Grande do qual ele começa a se apaixonar e ela também começa a se apaixonar pelo jeito diferente e carinhoso dele. No dia da grande comemoração do aniversário de Batista, Sabola consegue todos os itens e Akili diz que ele deve fugir naquele dia. O jovem fica com medo, afinal, se fosse pego ele já sabia que seria surrado ou morto. Akili liberta Sabola das algemas e o jovem diz que vai fugir pelo canavial, mas o velho insisti que Sabola deverá fugir pela frente da Casa Grande onde o caminho é livre e mais rápido de chegar na floresta, pois ele poderia se perder no canavial. Temeroso, ele concorda e foge. Ali ele pega um mula e começa a cavalgar com ela, mas é visto por um dos capachos da fazenda, Jonas, e o homem começa a lhe atirar. Com aqueles tiros Antônio aparece e vai atrás do escravo, e infelizmente consegue pegá-lo. Para derrubar o jovem, Antônio corta a cabeça da mula que cai no chão e arrasta Sabola de volta ao centro da fazenda, mas desta vez para ser açoitado. Quem faz o castigo é o próprio dono da fazenda e dá a ordem para que seu filho mate o escravo como exemplo. Antônio é cruel, e se aproxima do rapaz já inconsciente pelas feridas e lhe decepa a perna direita bem no joelho com um facão, como o osso resiste ele começa a serrar a perna do rapaz que acorda aos berros de dor. Por detrás, Jonas vem com um pano e o sufoca até a morte. Sabola teve um destino cruel, mas os malfeitores tiveram um destino ainda mais cruel.
Naquela mesma noite, Jonas estavam com os outros capachos em uma cabana que ficava no final do canavial, e dali escutaram um assobio. Assobio esse que foi ficando cada vez mais perto, até que escutaram algo andando. O animal parecia cair e se levantar, e para o assombro dos homens, se tratava da mula andando sem a própria cabeça, e do matagal surge o corpo já apodrecendo de Sabola sem a perna. Os homens ficam apavorados e no dia seguinte decidem contar ao dono da fazenda o que viram, mas obviamente ele não acredita. Escravo de Capela traz uma versão visceral e aterrorizante das lendas do Saci e da Mula sem Cabeça. Foi genial a forma que o autor Marcos DeBrito criou a sua versão do Saci e da Mula, confesso que eu jamais teria pensado nisso. A ambientação e a época em que se passa o livro o tornaram ainda mais assustador. O livro começou lento, mas a velocidade dos acontecimentos foram acelerando de uma forma que eu não conseguia mais largar o livro. Além da figura fantasmagórica do Saci que começa a se vingar, também há uma história oculta entre os Cunha Vasconcelos, que só é revelada no final, adorei o suspense e ouso dizer que já suspeitava, mesmo assim, a forma como a revelação é feita é extraordinária, além dessa revelação temos um outro plot, este eu não darei nem pista. Adquira o seu exemplar na Amazon – https://amzn.to/2E5TFjI Clique na imagem e participe do sorteio!