19 de janeiro de 1809. Essa é a data em que nasceu Edgar Allan Poe, um dos nomes mais importantes da literatura. Escritor, editor e critico literário, não foi tão levado a sério em tais funções na sua época, e obtive reconhecimento apenas a partir do poema póstumo O Corvo que é, ainda hoje, um dos mais conhecimentos da literatura mundial.
Apesar da morte prematura e misteriosa, deixou obras marcantes e que seriam lembradas pela eternidade. Talvez tenha sido a vida difícil e cercada de mortes que tenham influenciado sua escrita, já que ela é um instrumento principal na maior parte de seus textos, mas Poe soube transformar o sentimento de angústia e dor em poema e conto, que inspiraram e ainda inspiram muitos dos grandes escritores de terror.
Então, vamos conhecê-los?
1. H.P. Lovecraft
Autor de O Chamado de Cthulhu, Nas Montanhas da Loucura, Um sussurro nas trevas, entre outros, teve como grande inspiração Poe. Lovecraft escrevia sobre o que ele intitulava cosmicismo, que é uma ideia que diz que a vida é incompreensível para o ser humano, e o universo hostil aos seus interesses. Conhecido principalmente por Necronomicon, um livro fictício citado em Mitos de Cthulhu, que diz como ressuscitar mortos; como falar com pessoas já falecidas; viajar para outras dimensões; entre outras coisas inimagináveis. Também diz que basta a leitura do mesmo para levar alguém a loucura ou até mesmo a morte. Há quem pense que o livro é real e, por incrível que pareça, muitos já foram atrás dele. Inclusive, Lovecraft já recebeu cartas de algumas pessoas dizendo que ele REALMENTE EXISTE, e que elas estavam com o exemplar. Outra história (ainda mais estranha que essa), é de que o Necronomicon existe e foi escrito em 730 D.C; por Abdul Alhazred, um árabe louco. Também há alguns filmes que falam sobre o livro, o mais conhecido deles é A Morte do Demônio, de Sam Raimi.
O maior escritor da atualidade do gênero terror, além de ter H.P Lovecraft como inspiração, também tem Poe. Autor de livros que viraram filmes e deram susto em muita gente nos anos 70 (ao som de muito Ramones, claro), como: O Iluminado, Carrie: A Estranha e A Espera de Um Milagre, entre outros. King vendeu mais de 400 milhões de cópias (sendo publicadas em mais de 40 países); é o nono autor mais traduzido no mundo; escreveu roteiros para séries como Arquivo X e suas obras contam com mais de 30 livros, 40 filmes e 5 séries.
Mais conhecido por ter criado o famoso detetive Sherlock Holmes, foi médico e escritor britânico. Holmes é conhecido pela sua perspicácia, carisma e dedução lógica para resolver seus casos, mas não é o único. O personagem é inspirado em um, também detetive, chamado Arthur Gordon Pym, criação de Poe que é, incrivelmente sagaz na resolução de crimes, o que torna ambos impressionantes. Apesar de ser conhecido mundialmente por Sherlock Holmes (que conta com mais de 60 contos), Doyle também escreveu narrativas com o Professor Challenger e também muitos trabalhos sobre guerra, exército e espiritualismo.
Baudelaire, um dos grandes nomes da literatura francesa, foi um dos primeiros a admirar a beleza da arte de Poe, o que o fez traduzir várias obras do mesmo, tornando conhecido tanto Poe quanto a si mesmo na Europa. Sua obra mais conhecida é Flores do Mal, que causou reboliço na época por conta de alguns contos. Segundo a justiça, foi acusado de desrespeitar a moral pública, e teve que pagar a justiça e sua editora. A obra conta com cerca de 100 poemas, e hoje é possível acessa-la com facilidade. Assim como Poe, teve uma morte precoce e não conheceu a fama, mas enriqueceu a literatura com suas obras.
Órfão, pobre, negro, gago e tradutor e O Corvo. Um dos brasileiros mais importantes da literatura também traduziu o conto mais famoso de Poe (assim como Fernando Pessoa). Machado de Assis é conhecido por Dom Casmurro, Quincas Borba, Memórias Póstumas de Brás Cubas, entre outros. Escreveu quase todos os gêneros literários, mas foi com romances que ficou mais conhecido e suas obras passam de 20. Também foi contador e enxadrista. Testemunhou uma grande mudança política em nosso país, quando fomos de Império para República e um grande comentarista dos fatos de sua época. Há outros grandes escritores também inspirados em Poe, como: Clifford D. Simak (The Creator), Júlio Verne (A Volta Ao Mundo Em 80 Dias), Robert Louis Stevenson (O Médico e o Monstro), Ray Bradbury (Fahrenheit 451). Também há alguns filmes para quem quiser conferir, segue a lista: _ O Corvo (Dirigido por james McTeigue, 2012) _ Vincent (Dirigido por Tim Burton, 1982) _ Sherlock Holmes (Dirigido por Guy Ritchie, 2009) _ A Mansão Do Horror (Dirigido por Roger Corman, 1961) _ A Orgia da Morte (Dirigido por Roger Corman, 1964) E para os que ainda não conhecem a obra de Poe, aqui está o conto “O Corvo”. Tradução de Machado de Assis: Em certo dia, à hora, à hora Da meia-noite que apavora,
Eu, caindo de sono e exausto de fadiga, Ao pé de muita lauda antiga, De uma velha doutrina, agora morta, Ia pensando, quando ouvi à porta Do meu quarto um soar devagarinho, E disse estas palavras tais: “É alguém que me bate à porta de mansinho; Há de ser isso e nada mais.”
Ah! bem me lembro! bem me lembro!
Cada brasa do lar sobre o chão refletia Eu, ansioso pelo sol, buscava Sacar daqueles livros que estudava Repouso (em vão!) à dor esmagadora Pela que ora nos céus anjos chamam Lenora. E que ninguém chamará mais.
E o rumor triste, vago, brando
Das cortinas ia acordando Dentro em meu coração um rumor não sabido, Enfim, por aplacá-lo aqui no peito, Levantei-me de pronto, e: “Com efeito, (Disse) é visita amiga e retardada Que bate a estas horas tais. É visita que pede à minha porta entrada: Há de ser isso e nada mais.”
Minh’alma então sentiu-se forte;
Não mais vacilo e desta sorte Falo: “Imploro de vós, — ou senhor ou senhora, Me desculpeis tanta demora. Mas como eu, precisando de descanso, Já cochilava, e tão de manso e manso Batestes, não fui logo, prestemente, Certificar-me que aí estais.” Disse; a porta escancaro, acho a noite somente, Somente a noite, e nada mais.
Com longo olhar escruto a sombra,
Que me amedronta, que me assombra, E sonho o que nenhum mortal há já sonhado, Mas o silêncio amplo e calado, Calado fica; a quietação quieta; Só tu, palavra única e dileta, Lenora, tu, como um suspiro escasso, Da minha triste boca sais; E o eco, que te ouviu, murmurou-te no espaço; Foi isso apenas, nada mais.
Entro coa alma incendiada.
Logo depois outra pancada Soa um pouco mais forte; eu, voltando-me a ela: “Seguramente, há na janela Alguma cousa que sussurra. Abramos, Eia, fora o temor, eia, vejamos A explicação do caso misterioso Dessas duas pancadas tais. Devolvamos a paz ao coração medroso, Obra do vento e nada mais.”
Abro a janela, e de repente,
Um nobre corvo entrar, digno de antigos dias. Não despendeu em cortesias Um minuto, um instante. Tinha o aspecto De um lord ou de uma lady. E pronto e reto, Movendo no ar as suas negras alas, Trepa, no alto da porta, em um busto de Palas; Trepado fica, e nada mais.
Diante da ave feia e escura,
Com o gesto severo, — o triste pensamento Sorriu-me ali por um momento, E eu disse: “O tu que das noturnas plagas Vens, embora a cabeça nua tragas, Sem topete, não és ave medrosa, Dize os teus nomes senhoriais; Como te chamas tu na grande noite umbrosa?” E o corvo disse: “Nunca mais”.
Vendo que o pássaro entendia
A pergunta que lhe eu fazia, Fico atônito, embora a resposta que dera Dificilmente lha entendera. Na verdade, jamais homem há visto Cousa na terra semelhante a isto: Uma ave negra, friamente posta Num busto, acima dos portais, Ouvir uma pergunta e dizer em resposta Que este é seu nome: “Nunca mais”.
No entanto, o corvo solitário
Não teve outro vocabulário, Como se essa palavra escassa que ali disse Toda a sua alma resumisse. Nenhuma outra proferiu, nenhuma, Não chegou a mexer uma só pluma, Até que eu murmurei: “Perdi outrora Perderei também este em regressando a aurora.” E o corvo disse: “Nunca mais!”
Estremeço. A resposta ouvida
É tão exata! é tão cabida! “Certamente, digo eu, essa é toda a ciência Que ele trouxe da convivência De algum mestre infeliz e acabrunhado Que o implacável destino há castigado Tão tenaz, tão sem pausa, nem fadiga, Que dos seus cantos usuais Só lhe ficou, na amarga e última cantiga, Esse estribilho: “Nunca mais”.
Segunda vez, nesse momento,
Sorriu-me o triste pensamento; Vou sentar-me defronte ao corvo magro e rudo; Da poltrona que eu mesmo ali trouxera Achar procuro a lúgubre quimera, A alma, o sentido, o pávido segredo Entender o que quis dizer a ave do medo Grasnando a frase: “Nunca mais”.
Não lhe falava mais; mas, se lhe não falava, Sentia o olhar que me abrasava. Conjeturando fui, tranqüilo a gosto, Com a cabeça no macio encosto Onde os raios da lâmpada caíam, Onde as tranças angelicais De outra cabeça outrora ali se desparziam, E agora não se esparzem mais.
Supus então que o ar, mais denso,
Todo se enchia de um incenso, Obra de serafins que, pelo chão roçando Do quarto, estavam meneando Um ligeiro turíbulo invisível; E eu exclamei então: “Um Deus sensível Manda repouso à dor que te devora Destas saudades imortais. Eia, esquece, eia, olvida essa extinta Lenora.” E o corvo disse: “Nunca mais”.
“Profeta, ou o que quer que sejas!
Ave ou demônio que negrejas! Profeta sempre, escuta: Ou venhas tu do inferno Onde reside o mal eterno, Ou simplesmente náufrago escapado Venhas do temporal que te há lançado Nesta casa onde o Horror, o Horror profundo Tem os seus lares triunfais, Dize-me: existe acaso um bálsamo no mundo?” E o corvo disse: “Nunca mais”.
“Profeta, ou o que quer que sejas!
Ave ou demônio que negrejas! Profeta sempre, escuta, atende, escuta, atende! Por esse céu que além se estende, Pelo Deus que ambos adoramos, fala, Dize a esta alma se é dado inda escutá-la No éden celeste a virgem que ela chora Nestes retiros sepulcrais, Essa que ora nos céus anjos chamam Lenora!” E o corvo disse: “Nunca mais.”
“Ave ou demônio que negrejas!
Profeta, ou o que quer que sejas! Cessa, ai, cessa! clamei, levantando-me, cessa! Regressa ao temporal, regressa À tua noite, deixa-me comigo. Vai-te, não fique no meu casto abrigo Pluma que lembre essa mentira tua. Tira-me ao peito essas fatais Garras que abrindo vão a minha dor já crua.” E o corvo disse: “Nunca mais”.
E o corvo aí fica; ei-lo trepado
No branco mármore lavrado Da antiga Palas; ei-lo imutável, ferrenho. Parece, ao ver-lhe o duro cenho, Um demônio sonhando. A luz caída Do lampião sobre a ave aborrecida No chão espraia a triste sombra; e, fora Que flutuam no chão, a minha alma que chora Não sai mais, nunca, nunca mais! Poe é o meu escritor favorito, então, espero que tenham gostado do post. Beijos e até a próxima!