Olá, geeks! Como estão? Hoje trago uma matéria um pouco diferente. Vamos falar sobre alguns livros que foram censurados na ditadura militar. Esse será o primeiro post de, bom… basicamente, uma série, onde vamos falar sobre filmes, músicas, artistas, etc., que foram censurados na época, mas, primeiro, vamos relembrar o que é.
A ditadura foi um regime militar que ocorreu no Brasil de 1964-1985 e deu-se por meio de um golpe de militares contrários ao governo de João Goulart. O fato por si já foi um grande choque, mas piorou: Brasileiros eram perseguidos por conta do governo ao qual apoiavam, eram censurados, não havia democracia e quem se mostrava contra o governo, sofria as consequências.  Obviamente, tivemos várias obras e artistas censurados, então, vamos a algumas delas: Feliz Ano Novo, de Rubem Fonseca

Em 1975, o autor lançou um livro bastante polêmico para a época. A obra trazia 5 contos repletos de críticas sociais, onde os personagens viviam situações de violência extrema: ladrões que invadem uma festa de réveillon; um milionário que durante a noite procura vítimas para atropelar; um jovem que come o a amante morta com suas tias.  O livro acabou fazendo muito sucesso, mas foi proibido por Armando Falcão, Ministro da Justiça de Geisel. A acusação foi de que o autor estava atentando contra a moral e os bons costumes. A obra acabou sendo lançada novamente em 1985, quando Rubem Fonseca ganhou a causa. A Revolução Brasileira, de Caio Prado Jr. Cario Prado Jr foi um grande historiador que tinha uma preocupação quanto a política nacionalista e modernização do nosso país, e talvez o golpe militar de 1964 tenha contribuído em grande parte para esta obra.  O livro é um ensaio sobre os limites de forças da esquerda no país e acabou por mostrar a realidade brasileira e sua mudança revolucionária, marcando o pensamento brasileiro quanto a revolução. Nem preciso dizer que a obra ia completamente contra a política implantada no país, certo? Dez Histórias Imorais, de Aguinaldo Silva

Aguinaldo Silva atualmente é uma das figuras mais conhecidas do entretenimento, tendo escrito grande parte das novelas da Rede Globo, mas nem tudo foram flores para ele na época da ditadura. No ano de 1967 lançou uma obra que causou grande polêmica na época, fazendo com que seu livro fosse proibido. O motivo? O livro continha dois contos, um deles falando sobre o relacionamento de um homem homossexual nas forças armadas e o outro ofendia a igreja e críticas indecentes contra padres e monges, e foi justamente essa a acusação. O autor estava indo contra a moral e os bons costumes (essa desculpa era bem comum). Tessa, A Gata, de Cassandra Rios Impossível falar de livros censurados e não citar o nome de Cassandra Rios. A autora foi a escritora mais perseguida durante a época, tendo 36 de suas obras proibidas por conterem temas eróticos, onde muitas vezes abordava a sexualidade das mulheres e a orientação sexual dos personagens, o que fez o conteúdo de seus livros serem classificados como eróticos. Assim como alguns dos livros citados acima, também foi acusada de ir contra a moral e bons costumes, mas isso não a desanimava bem um pouco. Como podem ver na capa do livro Tessa, A Gata, a autora usa um termo bem ousado para se referir a si mesma: Um novo sucesso da autora mais proibida no Brasil.  Muitos adolescentes procuravam suas obras as escondidas e mesmo assim a autora vendeu milhões de livros. Imaginem como reagiriam a um obra como Cinquenta Tons de Cinza ou se soubessem que hoje em dia o gênero hot é extremamente comum.  Dona Flor e Seus Dois Maridos, de Jorge Amado Um dos escritores brasileiros mais famosos e traduzidos do mundo também sofreu para publicar suas obras. Autor conhecido por grandes sucessos como: Gabriela, Cravo e Canela e Capitães de Areia, possui características marcantes na escrita e também na personalidade: era comunista.  Muitas de suas obras foram perseguidas: Cacau foi o livro que lhe deu destaque, mas também vieram consequências: Processões, prisão e exílio. Detido em 1937, foi na prisão que descobriu da queima de seus livros (mais de mil exemplares) em uma praça pública. Para finalizar a matéria, eu não poderia deixar de falar de um grande editor da época: Ênio Silveira. Mas, quem foi Ênio Silveira? Foi um editor comunista que dirigiu por muitos anos a editora Civilização Brasileira, editando várias publicações que eram contra o regime. Ênio foi preso para prestar depoimentos sobre seu trabalho, mas se mostrou contra a censura e houveram consequências, ainda mais por sua editora ser uma das mais perseguidas. Infelizmente, sua livraria foi alvo de um atentado à bomba no RJ, mas até hoje a editora existe, mantendo-se fiel ao pensamento crítico. O que o torna uma grande pessoa? O fato dele encarar a ditadura de frente e editando livros “proibidos”, acredito que seja um dos fatos mais marcantes, pois ele sabia que haveriam consequências.  Nem imagino o quanto isso tenha sido difícil, mas o editor honrou seu trabalho e suas ideologias e o admiro muito por isso. Outra coisa que acho importante ressaltar é o que faziam as pessoas que tinham esses tipos de livros, muitos começaram a tomar precauções, já que muitas das obras eram consideradas subversivas, afastando os jovens de uma vida correta.  Muitos queimavam ou enterravam seus livros, lembrando bem a realidade de Fahrenheit 451, de Ray Bradbury, mas também haviam os que davam seus livros a conhecidos que não tivessem envolvimento político, pensando que futuramente os recuperariam.  Mas leitores não eram os únicos prejudicados. Estudantes também sofriam. Quem estudava Filosofia, Literatura, História (enfim, matérias essenciais para a formação do homem) encontrava grande dificuldade para encontrar o material de estudo (ainda mais se o livro fosse de um autor proibido). Mas isso não os impedia de ler clandestinamente.  A militância de esquerda, por sua vez, sentia necessidade de ler e difundir livros estratégicos para as suas organizações, considerados clássicos do seu repertório político e cruciais para a formação de novos militantes. Para driblar a censura, tais organizações criaram métodos clandestinos de circulação de livros proibidos. Nas gráficas de grupos guerrilheiros, capítulos de livros eram impressos separadamente e disfarçados com capas insuspeitas de livro de receitas ou obras famosas. Como a tiragem era muito pequena, esses impressos circulavam clandestinamente de mão em mão. Um único exemplar podia lido por muitas pessoas, até que alguém os jogasse fora para escapar da repressão. Então é isso, espero que tenham gostado da matéria.
Fonte: Blog Memorias da Ditadura: https://goo.gl/TNqOXO